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Polícia Civil faz operação contra receptação de fios furtados em Rio Preto e região
Essa operação decorre de um chamado da sociedade
Por Danielle MOLNAR - DHoje Interior
25 de Julho de 2025 às 09:23
Essa operação decorre de um chamado da sociedade, que diz que não aguenta mais”. A frase do delegado seccional de Rio Preto, Everson Contelli, traduz o sentimento de moradores e empresários que convivem diariamente com o furto de fios elétricos e telefônicos.
O aumento desse tipo de crime, que provoca prejuízos, transtornos e sensação de insegurança, levou a Polícia Civil a deflagrar, nesta quinta-feira, 24, a 'Operação Cegueira Deliberada', com foco em desmantelar a estrutura de receptação que sustenta essa cadeia criminosa.
Coordenada pela Delegacia Seccional de Rio Preto, a ação mobiliza 93 policiais civis, 39 viaturas e o apoio de equipes técnicas da CPFL, Vivo e das Fazendas Municipais. Ao todo, estão sendo vistoriados 26 estabelecimentos suspeitos de comercializar cobre e outros metais de forma irregular. Além disso, estão sendo cumpridos 10 mandados de busca e apreensão e apreendidas toneladas de fios e sucatas metálicas.
Segundo Contelli, a operação teve início há cerca de 30 dias, após a constatação de um fluxo elevado e inexplicável de cobre sendo enviado da região para outras partes do estado.
“Rio Preto não produz ligas de cobre, mas manda toneladas por mês para fora. De onde vem esse material? A origem lícita não existe. O que existe são imóveis sendo furtados, fios arrancados em plena via pública, e comerciantes que fingem não ver”, disse o delegado.
O nome da operação — Cegueira Deliberada — foi escolhido exatamente para ilustrar o comportamento de donos de ferros-velhos e recicladoras que compram materiais sem exigir comprovação de procedência. Para a Polícia Civil, essa omissão é proposital e constitui receptação qualificada, crime com pena de até 8 anos de prisão.
“O crime de receptação não exige que o comerciante saiba que aquele produto é fruto de furto. Basta que ele não tome as providências mínimas para checar a origem. É exatamente isso que está acontecendo e é por isso que estamos responsabilizando quem lucra com o crime”, afirmou Contelli.
Furtos que viraram rotina
A crescente incidência de furtos tem causado prejuízos generalizados. Moradores ficam sem energia, comerciantes têm gastos inesperados com reparos, e empresas relatam impactos diretos na operação. O setor imobiliário, por exemplo, relatou à polícia que até evita instalar placas de “aluga-se”, com receio de atrair criminosos.
“É um cenário que virou rotina: imóveis invadidos, quadros de energia destruídos, tampas de bueiro furtadas, caixas de telefonia arrombadas. E tudo isso porque existe quem compre. A operação de hoje é uma resposta clara de que essa rede criminosa não vai mais ser tolerada”, disse o delegado.
Técnica para apagar os rastros
Durante a investigação, a polícia identificou que muitos dos fios furtados são queimados antes de serem entregues aos receptadores. O objetivo é retirar o isolamento plástico e dificultar a identificação do tipo e origem do cabo. Essa prática, segundo a polícia, é mais uma evidência de tentativa de descaracterizar a prova do crime.
“Quem compra cobre queimado sabe que está assumindo o risco de estar comprando material furtado. É um sinal claro de irregularidade. E se não denuncia, se não exige nota, se não toma precauções, está praticando cegueira deliberada — e agora, responderá criminalmente”, frisou Contelli.
Fiscalização noturna e atuação conjunta
A operação teve início ainda na noite de quarta-feira, 24, com fiscalizações em ferros-velhos que funcionam 24 horas, estabelecimentos que, segundo a polícia, operam sob forte suspeita.
“Rio Preto talvez seja o único lugar do país — ou do mundo — onde um ferro-velho funciona 24 horas por dia. Qual o sentido disso? Nenhum. É claro que esse tipo de comércio está sob suspeita e é por isso que começamos a agir ainda de madrugada”, afirmou o delegado.
Além da atuação policial, a operação conta com o trabalho de quatro equipes da Vivo, cinco da CPFL e quatro da Fazenda Municipal, responsáveis por auxiliar nas análises técnicas, documentação e aspectos fiscais dos comércios vistoriados.
Notificações e próximas fases
Todos os estabelecimentos fiscalizados estão recebendo uma notificação formal proibindo a comercialização de metais sem origem comprovada. Esses documentos servirão de base para responsabilizações futuras.
“Eles sempre estiveram proibidos, mas agora estão avisados, por escrito, que serão responsabilizados criminalmente caso reincidam”, reforçou Contelli.
A Polícia Civil não descarta novas fases da operação, que continua com a análise do material apreendido e o mapeamento da cadeia de receptação. O objetivo é atingir não apenas os pequenos receptadores, mas também os intermediários e destinatários finais do material furtado, que muitas vezes estão em outras cidades do estado.
“A pessoa compra uma panela de alumínio na esquina e nem imagina que o metal pode ter vindo de um furto. Estamos expandindo a investigação para essas outras frentes também. A responsabilidade não termina no ferro-velho”, concluiu o delegado.
A Polícia Civil reforça que a tolerância com a receptação é zero e que o combate ao furto de fios passa, necessariamente, por quebrar o elo do comércio ilegal de metais.