Marcinho VP, pai de Oruam, lança livro na prisão e doa 100% da renda

Márcio Santos Nepomuceno, conhecido em todo o Brasil como Marcinho VP, decidiu usar a publicação de sua nova obra, “A Cor da Lei”, para promover impacto social. Condenado e preso desde 1996 na Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, o ex-traficante e escritor agora direciona sua produção intelectual a uma causa nobre.

Toda a renda arrecadada com a venda do livro, contudo, irá para o Fundo Municipal para a Infância e Adolescência do Rio de Janeiro (FIA-RJ). O fundo tem gestão do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA-RJ).

Por meio de sua assessoria, Marcinho explicou sua motivação: “Quero que este livro não só provoque reflexões sobre o sistema de Justiça, mas que também gere impacto real na vida de crianças que mais precisam de cuidado e atenção”. A publicação, distribuída pela Editora Kotter, busca denunciar injustiças e abrir diálogo sobre a estrutura do sistema penal, além de representar um gesto concreto de solidariedade com crianças vulneráveis.

Oruam, um dos rappers mais escutados no país atualmente, é filho de Marcinho VP e se pronunciou nas redes e na imprensa sobre o lançamento da obra. Com 24 anos, o cantor fez duras críticas à desigualdade racial. Ele destacou que o livro retrata vivências reais da família e também escancarou sua indignação com o preconceito que enfrentam:

“A lei tem cor sim e é preta! O racismo é perseguidor. Eu sou artista, tô no topo das paradas musicais e vivo sendo perseguido pela polícia. No fim, nunca acham nada de errado comigo”.

Durante a entrevista, o músico exaltou a postura do pai, demonstrando admiração pela escolha de doar toda a renda da obra. “Queria ver esses influenciadores que pagam de bonzinho fazer uma doação dessas, igual a do meu pai. Ele abriu mão de 100% da renda do livro. Eu sinto muito orgulho dele ter se tornado um autor, leio todos os livros dele”, disse Oruam.

De acordo com ele, a atitude do pai rompe estigmas sobre ex-presidiários e mostra que há, sim, espaço para recomeços.

A decisão de Marcinho VP chegou formalmente ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA-RJ), que confirmou o recebimento da notificação da doação. O órgão informou que os valores serão destinados a ações que promovem acolhimento e inclusão de crianças em situação de vulnerabilidade, com atenção especial àquelas com deficiência.

A obra A Cor da Lei se propõe a alcançar tanto leitores do meio acadêmico quanto o público interessado em compreender de forma mais crua os mecanismos do sistema de Justiça brasileiro. Para Marcinho, que escreveu a partir de sua própria vivência, trata-se de uma tentativa de ressignificar sua trajetória e inspirar mudanças reais.

De acordo com a sua autobiografia “O Direito Penal do Inimigo: Verdades e Posições” publicada em novembro de 2017, Marcinho VP nasceu no bairro Vigário Geral, na zona norte do Rio de Janeiro, em fevereiro de 1970. Ainda bebê, se mudou para São João de Meriti, na Baixada Fluminense.

Segundo a obra, ele começou a praticar delitos aos 13 anos, com o intuito de adquirir dinheiro para comprar roupas de marca. Posteriormente, Marcinho migrou para o tráfico de drogas, ascendeu na hierarquia e logo se tornou o líder do tráfico no Complexo do Alemão.

Marcinho VP foi preso em agosto de 1996. Ele foi condenado a 36 anos de prisão por matar e esquartejar dois traficantes rivais em 1996. VP é casado com Márcia Nepomuceno, pai de seis filhos – entre eles Oruam – e avô de dois netos.

Na terça-feira, 17 de junho, em uma live, Oruam comentou que o pai conseguirá a liberdade.

“Quando meu pai vai ser solto? Em breve, tropa! Meu pai já não deve mais nada, mas a instituição não solta ele. Parece que a mídia fica colocando ele como vilãozão para sempre, mas meu pai mesmo já não deve mais nada. Ele pagou tudo. Ele vai sair em breve, em nome do Senhor Jesus”, declarou o rapper.