Notícias→DIRETO DA REDAÇÃO→Produtores superam desafios e cultivo do cacau cresce no Noroeste Paulista
Produtores superam desafios e cultivo do cacau cresce no Noroeste Paulista
11/03/2025
Por .
11 de Março de 2025 às 09:44
A região de Rio Preto, após uma temporada de estudos do solo e possibilidades na cena da agricultura em terras quentes do interior paulista, passa a cultivar cacau. Se durante muitos anos pensou-se que cacau não seria possível em Rio Preto e região, hoje, produtores provam que é possível e que vem chocolate paulista por aí.
Segundo o engenheiro agrônomo e diretor da CATI Regional de Rio Preto, Fernando Miqueletti, de 43 anos, a cultura surgiu para atender uma necessidade de proprietários rurais locais, que plantavam seringueiras e, por volta de 2010, vinham sofrendo com o baixo preço da borracha, sendo necessário encontrar outra cultura que pudesse ser trabalhada no cultivo. “Os assistentes agropecuários da CATI começaram a trabalhar para que o cacaueiro, planta nativa da Amazônia e muito produtiva na Bahia e no Pará, se adaptasse à região de Rio Preto, conhecida por ser quente e seca”, explica.
Fernando conta que, os assistentes agropecuários visitaram lavouras cacaueiras na Bahia e em outras localidades em busca de conhecimento técnico. Desse modo, iniciaram um frutífero intercâmbio com a Comissão Executiva do Plano Lavoura Cacaueira (Ceplac) do sul da Bahia, cujos técnicos visitaram a região de Rio Preto e avaliaram que havia condições de se produzir cacau nas terras paulistas. “Para adaptar ao clima da região, os assistentes agropecuários escolheram clones de cacaueiro já consagrados em diferentes regiões do Brasil. Em 2019, os clones foram plantados de maneira experimental”, diz o engenheiro.
PARCERIAS
De acordo com Fernando, o cultivo de cacau na região de Rio Preto contou com apoio da Acirp (Associação Comercial de Rio Preto) e da Fundação Cargil, que viabilizou a abertura das unidades de adaptação tecnológica da cultura na região rio-pretense. Além disso, Fernando diz que os assistentes agropecuários à frente do projeto passaram a fazer palestras em várias regiões do Estado para compartilhar métodos de manejo e a experiência do plantio com proprietários rurais interessados. “Os primeiros plantios comerciais na região de Rio Preto começaram em 2021 e, agora já estão iniciando a produção, comprovando que o cacau pode ampliar as possibilidades econômicas da região para atender à crescente demanda do mercado nacional e internacional por cacau de alta qualidade”, comenta.
DESAFIOS
Fernando destaca que, investir em uma cultura nova que não é tradicional na região é desafiador, demandando muita clareza por parte da assistência técnica, que é desenvolvida pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA) por meio da Coordenadoria de Assistência Técnica e Extensão Rural (CATI), sobre a forma de plantio, condução da cultura e da pós-colheita dos frutos, para conferir segurança.
Miqueletti também explica que o cacau plantado na região Noroeste de São Paulo precisa ser irrigado, portanto, a disponibilidade de água no imóvel precisa ser considerada antes do investimento ser realizado. Ele ainda pontua que, a sombreamento inicial e a utilização de quebra-ventos são práticas pouco usuais nas culturas tradicionais da região, mas muito importantes para a cultura do cacau – gerando a necessidade de uma mudança de paradigma para os investidores.
TÉCNICAS PARA UM PRODUTO DE QUALIDADE
De acordo com o profissional, os tratos culturais são demandados desde o plantio do cacau. A formação das plantas é realizada com podas e estas se estendem inclusive na idade produtiva das plantas. Mas os fatores primordiais para um cacau de qualidade envolvem a colheita do fruto no ponto de maturação ideal, fermentação bem realizada seguindo critérios técnicos, secagem e armazenamento adequados. “Todas estas técnicas são repassadas aos produtores pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA) por meio da Coordenadoria de Assistência Técnica e Extensão Rural (CATI)”, garante.
EXPECTATIVAS
Ainda segundo Miqueletti, as expectativas são excelentes, haja vista que há muito interesse por parte de empresas compradoras de cacau que veem potencial na região. “Como a oferta de cacau no mundo está diminuindo a cada ano e a demanda pelas amêndoas tem aumentado muito, vemos uma grande oportunidade para os produtores e para região, com geração de oportunidades de empregos de forma direta, indireta e geração de renda”, assegura.
INVESTINDO NO CACAU
Ricardo de Carvalho Lorga, 63 anos, é juiz de direito aposentado e ingresso na atividade rural há 4 anos. Lorga conta que ele e o irmão possuem 4,5 hectares em Nova Aliança, para plantação de cacau, com planos de expandir a área plantada em mais 8 hectares.
O produtor diz que acredita que vai acontecer com o cacau, originário da Amazônia, como a seringueira – cultura agrícola muito presente do noroeste - o mesmo que aconteceu com a seringueira, com a vantagem de que o cacau começa a produzir comercialmente em três anos; enquanto a seringueira produz depois de sete anos, em média. “O cacau é uma ‘commodity’, com preço fixado em bolsas de mercadorias de Nova Iorque e Londres, portanto, os preços não ficam sujeitos a variações por questões locais, além do que, diferentemente do que acontece com o produtor de seringueira, o produtor de cacau pode não só comercializar as amêndoas de cacau que ele produz, mas, se quiser, com pouco investimento, pode produzir ele mesmo chocolate e derivados, assim agregando valor a sua produção”, pontua.
Para Lorga, não se pode esquecer que o cacau, atualmente, está com preços recordes históricos com a falta do produto no mercado mundial. “O preço do quilo da amêndoa do cacau está por volta de R$60 e um hectare de cacau pode produzir 2 mil kg (ou mais) de amêndoas, ou seja, uma renda bruta de R$120mil por hectare, o que é fantástico na atividade rural”, explica. Segundo o produtor, um aspecto importante na região de Rio Preto, é que ela está próxima dos maiores centros de consumo de chocolate, sendo uma vantagem logística, diferentemente do que acontece com os maiores produtores de cacau do Brasil que estão na Bahia e no Pará.
Lorga ainda compartilha que, os próximos passos são o efetivo plantio de mais áreas de cacau, o aumento da produção de cacau na região, fortalecendo o setor, o que propiciará, num futuro próximo, o surgimento de cooperativas de produtores de cacau e a vinda de indústrias de transformação relacionadas ao chocolate. “Eu espero que a implantação do cacau em nossa região traga mais uma opção de diversificação para o produtor rural, permitindo a ele maior retorno econômico, também mais emprego no meio rural, com melhor remuneração do trabalhador rural e, no geral, mais desenvolvimento e melhores condições de vida”, finalizou.